
É uma manhã fria e cinzenta de inverno e, como de costume, chegamos à sala de aula. Enquanto busco o diário de classe em meu armário, a turminha, ainda sonada, organiza seus materiais: mochilas nos cabides de bichinhos, estojo embaixo das carteiras e plaquinhas de identificação sobre elas.
Inicia-se a rotineira chamada e nome a nome escuto costumados, "Pesente!" Aproxima-se, então, o nome dele na lista e, ainda de olhos fixos no papel e ouvidos atentos, pronuncio: "João Rafael? João...?" Nada! Nenhum ruído manifestado. Levanto meus olhos para confirmar se o pequeno, por algum milagre divino, talvez tivesse distraído-se com o próprio silêncio. Meus ouvidos custaram a acreditar naquela paz.
Não! Ele não está na sala. "Deus do céu, ele faltou!", penso aliviada. Continuo tranquila a chamada - nascera a promessa de uma manhã calma e produtiva.
Nesse exato instante, antes mesmo de poder concluir meus bons pensamentos, escuto passinhos apressados no corredor. "Não... Não é possível! Ele nunca se atrasa.", pensei, agora bem menos aliviada e um tanto angustiada.
De repente, os passinhos cessam, a porta se abre bruscamente e, audível como um trovão, escuto: "Seguei, sossesola!"
Marina Andrade
(Educação Infantil, 2011)